terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Aracaju tem melhor assistência psicossocial do país




clique para ampliarFotos: Alejandro Zambrana
clique para ampliarPessoas assistidas pelos Caps participam de diversas atividades durante tratamento
clique para ampliarFoto: André Moreira
clique para ampliarKarina Cunha, coordenadora da Rede de Atenção Psicossocial (Foto: Silvio Rocha)
clique para ampliarAtividades integram e ajudam na socialização dos usuários (Foto: Ascom/SMS)
O serviço prestado pela Rede de Atenção Psicossocial em Aracaju é referência no Brasil. No último levantamento feito pelo Ministério da Saúde este ano, Aracaju é listada como a capital com a melhor cobertura de atenção psicossocial do Brasil, juntamente com Vitória, no Espírito Santo.
No levantamento, Aracaju está pontuada com índice 1,23. Esse número representa a cobertura de um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) para cada 100 mil habitantes. Na cidade de São Paulo, que tem a população de 11 milhões e 244 mil habitantes, segundo o IBGE, o índice ficou em apenas 0,44. Salvador, por exemplo, tem uma cobertura de 0,54, ou seja, apenas um CAPS para quase 200 mil habitantes.
Aracaju conta hoje com seis Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), sendo três tipo III, com pernoite, funcionando 24 horas com acolhimento noturno para o usuário que precisa passar um tempo a mais no serviço; o CAPS Infanto-juvenil e o CAPS Álcool e outras Drogas (CAPS AD), além do Arthur Bispo do Rosário, que é uma parceria com uma ONG. A Prefeitura também disponibiliza quatro residências terapêuticas, onde moram alguns usuários originários de longas internações psiquiátricas.
Aracaju serve como modelo para as outras regiões do país. Antigamente a secretaria tinha uma concentração de recursos na área hospitalar, mas hoje há uma ampliação do acesso, principalmente às populações mais vulneráveis, os usuários de álcool e drogas principalmente o crack. Para o secretário municipal de Saúde, Silvio Santos, Aracaju tem seguido a linha da política nacional de tratamento de saúde mental que aconselha tratamento humanizado e internamento apenas em casos extremos.
"Estamos fazendo o nosso dever de casa. O tratamento de saúde mental deve ser no ambiente familiar, na comunidade onde a pessoa vive, próximo aos amigos, e não trancado, como antigamente. Estamos seguindo essa diretriz fazendo um processo de redução nos internamentos, conforme prevê a lei, e tratando esses usuários de forma que eles sejam inseridos no convívio social e não isolados da comunidade", afirma o secretário.
Serviços
Entre as capitais brasileiras, apenas metade oferece atendimento para todas as faixas etárias em serviços especializados: infanto-juvenil, álcool e outras drogas e transtorno mental em adultos. Aracaju também alcançou este patamar. Nas unidades, os usuários participam de várias atividades, oficinas sobre temas como educação, saúde, pintura e serigrafia, além de grupos de adolescentes, mulheres e terceira idade. Bordado, música, canto, futebol, capoeira e tapeçaria são outras atividades desenvolvidas pelas equipes.
O CAPS III é destaque para esta cobertura em Aracaju. Apenas dez capitais do Brasil oferecem o serviço e Aracaju está na lista. No país, das 55 unidades deste tipo, três estão em Aracaju e, em breve, serão quatro. Atualmente, o CAPS AD Primavera está em processo de mudança para ser transformado em CAPS III, o que deve acontecer no início de 2012.
Segundo a coordenadora da Rede de Atenção Psicossocial, Karina Cunha, na capital, cerca de 1.600 usuários são acolhidos e tratados em todo a rede. "Nos últimos 2 anos, estamos verificando um aumento bastante significativo dos usuários de álcool e outras drogas. Se antigamente fazíamos uma média de dois a três acolhimentos por dia, hoje fazemos oito acolhimentos/dia de novos usuários, procurando tratamento no serviço", diz a coordenadora.
Outro fator que tem feito o tratamento dos usuários avançar é o incentivo e o trabalho de conscientização da participação dos familiares no acompanhamento. "Contamos com uma maior participação da família, através de reuniões, grupos de apoio e até oficinas terapêuticas que visam aproximar e também cuidar dos familiares. Historicamente, as pessoas com transtornos mentais graves passavam grande parte da vida internadas, perdendo todo o vínculo familiar. Hoje o cuidado realizado nos CAPS possibilita a conquista do direito à cidadania e à participação da vida junto a família e a comunidade ", conclui Karina Cunha.
Residências Terapêuticas
Outro destaque para o trabalho realizado pela rede de atenção psicossocial é a implantação das residências terapêuticas. Em Aracaju são quatro, com 28 moradores no total. São pessoas que perderam vínculo familiar e social. Esse projeto tem trazido a possibilidade de que essas pessoas habitem na cidade, em casas comuns, construindo novos vínculos sociais, circulando pela comunidade, reencontrando formas de participação na vida cotidiana.
Aracaju é uma cidade precursora na oferta desse tipo de serviço. Os Centros de Atenção Psicossociais foram implantados em 2000, ou seja, um ano antes da Lei Federal 10.216, que trata da reforma psiquiátrica no Brasil e incentiva a humanização do serviço, entrar em vigor. A lei veio em 2001, depois de 12 anos de tramitação no Congresso Nacional. 
"Nós em Aracaju temos a alegria de olhar essa trajetória e constatar o avanço desse trabalho, a forma mais humanizada de tratamento, a socialização dos usuários, uma equipe comprometida e dedicada a essa tarefa. Esse é um trabalho muito bonito e acima de tudo, responsável", elogiou o secretário de Saúde.
Para o coordenador da estratégia de Redução de Danos, Wagner Mendonça, o maior indicador de avanço é o fato de que nos últimos dois anos o número de internações dos pacientes de Aracaju em clínicas psiquiátricas diminuiu entre 30% e 35%.
"É perceptível o número cada vez menor de internações e o desafio é continuar fazendo esse numero cair. Não dá mais para admitir longas internações e a exclusão desse usuário do convívio familiar e da própria comunidade onde ele vive. Essa rede de atenção implantada em Aracaju é referência justamente porque trabalha com essa diretriz", diz Wagner Mendonça.

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